segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Poesia 5

E aí?

E aí?
Cá estou eu
De pé no chão,
De braços e mãos
Abertos.

E aí?
Estou aqui
De ouvidos aguçados,
De boca entreaberta,
Sobrancelhas e testa
Franzidas.

E aí?
Onde está o pedestal
Em que tu me colocaste?
E que juraste
Que eu dele nunca iria descer,
Que ele nunca fosse ruir?

E aí?
Foi lá onde tu me botaste mesmo?
Lá onde eu nunca pedi pra estar,
Lá que tu construíste a tua ilusão
Ao meu respeito?

E aí?
Tu te indignaste
Com o existente contraste
Entre a sua ilusão
E essa que aqui está
De pé no chão?

Garanto, meu bem,
Que foi a sua percepção,
Não meu talento em atuação
Que gerou tal equívoco.

Pois da minha condição
Não abro mão
E digo:
"Ei, sou humana!
Não sou perfeita nem santa!"

E aí?
Tu te frustraste comigo
Quando na verdade foste tu
Quem construiu o pedestal,
Assim como aquele quem o destruiu.

Talvez seja por isso
Que ao fitar o meu olhar
Foste evasivo
Das perguntas.
Negaste tua parcial culpa.

Pois nos meus olhos, tu viste
Havia uma determinação
Em colocar os pingos nos "is".
Havia a sua fria
E recorrente indagação
Agora voltada para ti:
"E aí?"

(Gabriela Torres)

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